A BODIVA fala sobre o financiamento de projectos de petróleo e gás antes da AOG 2025
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A Bolsa de Valores de Angola (BODIVA) tem como objetivo cotar pelo menos 10 empresas até 2028, incluindo as estatais Sonangol e Endiama. Antes da conferência Angola Oil & Gas (AOG) - a decorrer de 3 a 4 de setembro em Luanda - a Energy Capital & Power falou com a Presidente da BODIVA, Cristina Dias Lourenço, sobre o impacto das IPOs previstas; estratégias para o financiamento de projectos de petróleo e gás; e como o país se está a transformar num centro financeiro.
Qual é a situação das OPI em curso e qual o seu impacto previsto na economia?
O objetivo de cotar 10 empresas até 2028 sublinha o nosso objetivo estratégico de financiar a expansão de empresas-chave através dos nossos mercados, assegurando simultaneamente que os investidores dispõem de mais instrumentos para negociar na bolsa. O impacto previsto é o financiamento do crescimento económico através do aumento do rácio capitalização bolsista/dívida bruta para cerca de 17%. A admissão à cotação da Sonangol e da Endiama contribuirá certamente para este rácio. Relativamente ao seu estatuto, é importante referir que estas cotações fazem parte do Programa de Privatizações do Governo Angolano e estão atualmente a ser preparadas pelo Instituto de Gestão de Activos do Estado, enquanto titular do processo, em estreita coordenação com os ministérios da tutela, intermediários financeiros e outros intervenientes, sendo todas as actualizações sobre o seu estatuto anunciadas publicamente pelo IGAPE.
Porque é que acredita que a cotação na BODIVA representa uma solução estratégica para a captação de capital no sector dos hidrocarbonetos em Angola?
O sector dos hidrocarbonetos é complexo, na medida em que é de capital intensivo e exige uma gestão rápida dos fluxos de tesouraria. Atualmente, o sector bancário continua a desempenhar um papel fundamental na sua combinação de financiamento. No entanto, vemos uma oportunidade para as empresas locais recorrerem aos mercados de capitais locais para financiamento. A BODIVA oferece um mercado eficiente, regulado e transparente para mobilizar poupanças nacionais e atrair capital estrangeiro.
O anúncio de uma emissão de dívida por parte da Etu Energias é um sinal claro da crescente maturidade do nosso mercado e servirá de referência para outras empresas do sector. Trata-se de uma solução bem adaptada às necessidades do sector, permitindo às empresas financiar projectos estratégicos, mantendo o controlo acionista, e contribuindo simultaneamente para o desenvolvimento do mercado secundário de obrigações.
O que é que as empresas precisam de fazer para se qualificarem para emissões de dívida na bolsa BODIVA?
As empresas que pretendam emitir dívida na BODIVA devem cumprir os critérios definidos no Regulamento do Mercado de Dívida, nomeadamente: pelo menos três anos de atividade; valor mínimo de emissão de AOA 60 milhões; prospeto completo; e relatórios financeiros e de gestão dos últimos três anos (dos quais pelo menos o último deve ser auditado).
Que medidas tomou a BODIVA para apoiar as empresas petrolíferas no processo de IPO?
A BODIVA tem trabalhado continuamente no reforço de capacidades, na sensibilização e na prestação de assistência técnica às empresas do sector, nomeadamente através de workshops, reuniões bilaterais e sessões de informação personalizadas com potenciais emitentes. Estamos também a trabalhar para simplificar os procedimentos e melhorar os prazos de admissão à cotação, em coordenação com a Comissão do Mercado de Capitais (CMC) e em parceria com bancos de investimento, consultores e auditores.
Como é que vê a BODIVA a transformar a perceção de Angola como um centro financeiro? Que salvaguardas para os investidores estão a ser introduzidas?
A BODIVA tem sido um agente central na promoção da confiança e da previsibilidade no sistema financeiro angolano. A adoção de normas internacionais de informação financeira, a supervisão ativa pela CMC, a transparência dos nossos mecanismos de negociação e liquidação e a nossa filiação em organizações internacionais como a WFE e a AMEDA reforçam a credibilidade da Bolsa de Valores de Angola. No que diz respeito aos mecanismos de proteção dos investidores, estamos a implementar um Fundo de Garantia de Liquidação que reforçará ainda mais a segurança e tornará Angola um destino mais atrativo para o investimento institucional estrangeiro.
Como podem os mercados financeiros, como a BODIVA, apoiar as empresas locais angolanas de serviços a tirar partido de grandes projectos de capital intensivo?
Através dos nossos mercados, os prestadores de serviços locais têm acesso a um conjunto praticamente "ilimitado" de investidores que podem financiar a sua atividade, tornando-se acionistas ou devedores. Isto permite-lhes modernizar, expandir ou adquirir equipamento. Em termos de emissão de dívida, as empresas podem estruturar os prazos de vencimento e de reembolso nas suas próprias condições e, no caso de uma PME, podem beneficiar de uma garantia do Fundo de Garantia de Crédito.
De que forma é que a BODIVA vai participar na conferência AOG 2025? Quais são os vossos principais objectivos no evento e que mensagem esperam transmitir às partes interessadas locais e internacionais?
O nosso principal objetivo no AOG 2025 é mostrar o desenvolvimento e o desempenho do mercado da BODIVA; as oportunidades de investimento nele existentes; e como o mercado de capitais está pronto para financiar o crescimento sustentável do sector petrolífero, fazendo a ponte entre a indústria e os mercados financeiros. A nossa mensagem é clara: o mercado de capitais angolano está aberto, seguro e disponível para financiar a economia.
No momento em que Angola comemora 50 anos de independência em 2025, qual é a sua visão para a contribuição da BODIVA para a transformação energética e económica de Angola a longo prazo?
A BODIVA tem a oportunidade de ser um motor fundamental do crescimento e da transformação económica nacional, capaz de canalizar as poupanças nacionais e internacionais para o financiamento da economia - que continua a ser sustentada pelo sector energético. Como tal, pretendemos ser um parceiro estratégico do sector energético, complementar às soluções que a banca tradicional oferece. A BODIVA pretende ainda contribuir para o reforço da governação corporativa, do relato financeiro e das práticas empresariais globais, transformando as nossas empresas em actores relevantes a nível regional e global.